É comum haver discrepância entre a imagem de uma liderança em seu país e no resto do mundo.
Nos regimes autoritários, os governantes tendem a ser mais bem
quistos em casa, pois não permitem que seus compatriotas desgostem
deles. Nas democracias, acontece o inverso, e é normal que sejam mais
bem avaliados fora.
Isso costuma decorrer dos alinhamentos partidários internos, que,
para um estrangeiro, são pouco relevantes. Ou vem do sentimento
traduzido pelo aforismo “Ninguém é profeta em sua terra”.
É mais fácil condescender com quem conhecemos menos.
No Brasil, são raríssimos os políticos que adquiriram notoriedade
fora de nossas fronteiras. Só os brasilianistas conhecem a vasta
maioria, que chegou, no máximo, à América do Sul e aos países de
expressão portuguesa.
Lideranças brasileiras de fato conhecidas internacionalmente são
duas: Fernando Henrique e Lula. Dilma está a caminho de ser a terceira.
O tucano é um exemplo daqueles cuja imagem interna e externa é marcadamente distinta.
Fora do Brasil, FHC é visto com olhos muito mais favoráveis que pela
maior parte dos brasileiros. É evidente que tem admiradores no País, mas
em proporção substancialmente menor que o daqueles que não gostam dele.
Tem, no entanto, reconhecimento internacional, que se traduz em
homenagens, prêmios e convites para integrar colegiados de notáveis.
Sempre que é saudado no exterior, nossa mídia e os “formadores de
opinião” de plantão registram com destaque o acontecimento,
considerando-o natural e como a compreensível celebração de suas
virtudes.
Acham injusta a implicância da maioria dos brasileiros para com ele.
Lula é um caso à parte. A começar por ser admirado dentro e fora do país.
Como mostram as pesquisas, os números de sua popularidade são únicos
em nossa história. Foi um governante com aprovação recorde em todos os
segmentos relevantes da sociedade, em termos regionais e
socioeconômicos.
Acaba de colher uma vitória eleitoral importante, com a eleição de
Fernando Haddad, a quem indicou pessoalmente e por quem trabalhou. Feito
só inferior ao desafio que era eleger Dilma em 2010.
No resto do mundo, é figura amplamente respeitada, à esquerda e à
direita, por gregos e troianos. Já recebeu uma impressionante quantidade
de honrarias.
Esta semana, foi-lhe entregue o prêmio Indira Gandhi, o mais
importante da Índia, por sua contribuição à paz, ao desarmamento e ao
desenvolvimento. Na cerimônia, o presidente do país ressaltou que Lula o
merecia por defender os mesmos princípios que Indira e Mahatma Gandhi. O
que representa, para eles, associá-lo à mais ilustre companhia
possível.
Quem conhece a imagem que Lula tem quase consensualmente no Brasil e no estrangeiro deve ficar perplexo.
Será que todo mundo – literalmente – está errado e a direita
brasileira certa? Só sua imprensa, seus porta-vozes e representantes
sabem “quem é o verdadeiro Lula”? O resto do planeta foi ludibriado
pelas artimanhas do petista?
É até engraçado ouvir o que dizem alguns expoentes da direita
tupiniquim, quantos adjetivos grosseiros são capazes de encontrar para
qualificar uma pessoa que o presidente da Índia (que, supõe-se, nada tem
de “lulopetista”) coloca ao lado do Mahatma.
Só pode ser porque não conhece o que pensa aquele fulaninho, um dos tais que sabem “a verdade sobre Lula”.
(Contraponto PIG/Correio Braziliense)
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