O crescimento contínuo nos últimos dez anos da construção civil no
país e a qualificação dos operários brasileiros têm levado as empresas
do setor a buscar mão de obra como a dos haitianos, que entram no país
ilegalmente pelo Acre.
O presidente da Confederação Nacional dos Sindicatos nas Indústrias
da Construção e da Madeira (Conticom), Cláudio da Silva Gomes, disse à Agência Brasil que essas pessoas geralmente migram para “subempregos” como serventes e auxiliares de pedreiro.
As próprias empresas, em geral as maiores e mais organizadas,
priorizam a qualificação dos profissionais já no mercado, além de
oferecerem melhores salários e outros benefícios. “O operário
brasileiro, que antes trabalhava para garantir o sustento de sua
família, agora quer melhor condição de vida”.
Cláudio Gomes ressaltou que os empresários consideram mais barato
investir nos operários à disposição do que ter de recontratar mão de
obra a cada nova obra. “As empresas partiram para uma espécie de
fidelização dos operários que, por sua vez, ficam com os melhores
empregos”, disse o presidente da Conticom, filiada à Central Única dos
Trabalhadores (CUT).
Aos haitianos, segundo ele, ocupam as vagas rejeitadas pelos
trabalhadores do país. Cláudio Gomes acrescentou que os estados do Norte
vivem um momento de grande crescimento no setor com a execução de obras
de porte. Ele informou que a Conticom tem feito levantamentos para
“desarmar” instrumentos de burla da legislação trabalhista que seriam
usados por empreiteiros que atuam em áreas remotas com esses
trabalhadores.
“O problema é que os haitianos, que não tem nada no seu país, se
submetem a exploração do subemprego e são coniventes com as atitudes
desses empresários o que dificulta a fiscalização do Ministério do
Trabalho”, frisou o sindicalista.
Em parte, essas avaliações coincidem com as de representantes de
empresas, como a Urb Topo Engenharia e Construções, com sede em Minas
Gerais. No primeiro semestre, a construtora contratou em Brasileia (AC)
30 haitianos para trabalhar em uma obra da Votorantim, em Cuiabá (MT).
O gerente comercial da empresa, Henrique Luiz Araújo Abreu, disse
que o operariado brasileiro se profissionalizou e hoje boa parte não
trabalha mais só com a carteira de trabalho assinada. “A realidade no
mercado da construção civil é que parte dos operários se qualificou como
pedreiro e carpinteiro. Eles montaram pequenas empresas e trabalham nas
obras como subempreiteiros”, disse.
Ele reconheceu que a mão de obra haitiana supre lacunas nos
canteiros de obra de serviços onde os trabalhadores do país não querem
mais atuar. Quanto aos 30 haitianos contratados pela Urb Topo, o gerente
comercial informou que a todos foi oferecido o salário de mercado
estabelecido em convenção pelos sindicatos e que eles recebiam cesta
básica ou vale alimentação, além de alojamento e o apoio de um tradutor,
já que muitos não falavam português.
“Dos 30 haitianos que contratamos 50% não se aproveitou. Eles
chegavam no canteiro de obra e recusavam o serviço para o qual foram
contratados, diziam que eram engenheiros no Haiti”, disse o gerente
comercial.
(Agência Brasil)
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