quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012


Considerações sobre as prévias do PT


1. As duas candidaturas e a questão da unidade partidaria

Conheço Alfredo Costa e Cláudio Puty há muito tempo e minha opinião é que ambos são excelentes quadros do PT e possíveis excelentes prefeitos para Belém. Pretendo acreditar que o grupo derrotado nas prévias, no próximo dia 5, irá apoiar integralmente a indicação do candidato escolhido e que, portanto, há um tema superior, já maduro no Partido, e que transcende a disputa interna de projetos: a importância da unidade partidária como instrumento estratégico para que o PT realize seu compromisso histórico. Obviamente que há paixões na militância, localizadas, que fazem com que, de ambas as partes, ataques pontuais, de caráter pessoal, sejam feitos. Isso é compreensível, no contexto de uma disputa, sobretudo depois do fracasso da reeleição do governo, em 2010, ferida obviamente (e necessariamente) não cicatrizada. Porém, é preciso superar essas paixões e caminhar de maneira racional, sem perder de vista o projeto comum, com a dimensão histórica que todos acreditamos possuir. A conjuntura exige coerência e coragem. É preciso seremos coletivamente responsáveis pela candidatura escolhida.

2. A questão do PMDB

Também  compreendo que o PMDB é um aliado importante, para o movimento tático do partido, na presente conjuntura nacional. Essa conjuntura é maior de que conjunturas pontuais e, portanto, independente do resultado das prévias petistas, no contexto de uma nova gestão do partido à frente da prefeitura de Belém, um dialogo político deverá ser feito.

Porém, é óbvio que a relação do PT com esse partido é, naturalmente, tensionda. O PMDB foi construído e está estruturado sobre um fisiologismo partidário contra o qual o PT sempre lutou. Nesse fisiologismo é recorrente a reprodução de práticas arcaicas da política nacional, como o caciquismo e a ausência da formulação coletiva.

Não é à toa que, apesar da aliança nacional, fundamental para a governabilidade, em apenas 2, das 27 capitais que estarão em processo eleitoral dentro de alguns meses, de acordo com matéria publica em O Globo no dia 29/01, a relação entre PT e PMDB é pacífica. Isso precisa ser considerado como parte constitutiva do cenário político nacional e local, porque é um fato político maior, que decorre do choque entre os compromissos históricos petistas e a pragmática dos movimentos táticos, imprescindíveis para garantir que um projeto nacional medianamente democrático e justo, ao menos, seja implementado.

Também não é à toa, em função desse mesmo contexto, a tentativa do PMDB paraense procurar interferir no processo interno de escolha do candidato petista que disputará a prefeitura de Belém, este ano.

3. Os interesses do PMDB paraense na disputa interna do PT

Essa interferência, tem, portanto, um fundamento lógico, claramente identificável. É que os dois projetos que estão em disputa, nas eleições petistas, representam pólos divergentes na reflexão partidária à respeito de como deva ser a participação do PMDB na construção do projeto do Partido dos Trabalhadores.

É preciso compreender muito bem essa diferença entre projetos, porque a escolha entre Alfredo Costa e Cláudio Puty como candidato à PMB resultará numa definição a respeito da extensão e do alcance do projeto petista no futuro imediato do partido, de todos nós e da cidade.

A hostilidade do Diário do Pará, jornal que contem a opinião do partido de Jader Barbalho, bem como dos blogues que lhe são afins, à candidatura de Puty, bem como sua clara preferência pela de Alfredo, indicam a imensa preocupação do PMDB com o processo petista. Obviamente, eles pretendem um PT que esteja sob as suas asas, à pretexto da aliança nacional. Por trás disso, há o desejo de retardar qualquer processo maior de participação social ativa na democracia local, bem como de retardar qualquer construção socialista.

Do ponto de vista do PMDB, um PT dócil, amansado com cargos e orçamentos públicos, é fundamental para seu próprio projeto de hegemonia.

Isso é um fato maior da política brasileira contemporânea, que também se aplica no Pará: o PT profundo obstaculiza a conquista hegemônica do PMDB, ainda que o contrario não se dê da mesma maneira. Nesse sentido, todos os movimentos políticos do PMDB, tanto no plano nacional como no plano local, serão no sentido de minar aquilo que indique o PT profundo, o PT socialista, o PT “de esquerda”, em função de seu próprio projeto de poder.

4. Os dois projetos

Esse PT profundo e “de esquerda” é representado pela candidatura de Puty. A de Alfredo representa o PT moderado, o PT que, embora também socialista, acredita num “socialismo de mercado”, para usar uma expressão que, algumas vezes, foi usada para criticar certos aspectos da política econômica do partido.

Em relação ao PMDB, pode-se esperar, da candidatura Alfredo Costa, menos críticas e menos combatividade. Pode-se auguardar um apurado receio de abalar uma aliança que, infelizmente, caminharia, é plausível imaginar, no sentido da composição dócil e num papel secundário, das forças de poder. Pode-se, em síntese, esperar uma força política “estática”, que fortalece o centro e a estabilidade da relação sem, contanto, deixar de ter uma participação critica nas franjas do debate público.

Da candidatura Puty, então, o que se poderia esperar? Em primeiro plano, um esforço de polarização. Isso representa duas coisas:

1 – A crença de que o PT, por tudo o que já conquistou para a sociedade brasileira, não pode aceitar ocupar um papel secundário no jogo político.

2 – A crença de que é de extrema importância, para os interesses da sociedade paraense, conter o PMDB do Pará no seu projeto de hegemonia.

E, em segundo lugar, um esforço de objetivação, que também representa duas coisas:

1 – A construção de um projeto político que seja pragmático, naturalmente, mas também técnico, profundamente comprometido com a inovação da gestão pública e política.

2 – A construção, como possível, do campo progressista da cidade de Belém, por meio do resgate e renovação das lutas sociais historicamente constituídas.

5. Por que eu apoio Cláudio Puty

1 - Porque acredito que o PT não pode se deixar levar pela tentação fácil e confortável de uma centralidade política, que, no contexto local, corresponde a uma aliança com o PMDB que favoreça a hegemonia desse grupo, com prejuízo para a construção histórica petista.

2 - Porque acredito que o papel da esquerda é o de confrontar a direita, desvelando seus disfarces e construindo propostas inovadoras.

3 – Porque acredito que, apesar de Alfredo Costa ser um excepcional quadro político do PT paraense, o momento histórico exige uma posição de confrontação.

4 - Porque acredito que Puty tem mais condições de catalisar votos do eleitorado de centro e, dessa maneira, chegar ao segundo turno e, posteriormente, à vitória.

5 - Porque, além de quadro político, Puty é, também, excelente quadro técnico, e é evidente que o governo Dilma traz ao PT uma dimensão técnica, que passa a ser valorizada e que se apresenta como tendência na construção política mais atual do partido - as candidaturas de Haddad à prefeitura de São Paulo e de Márcio Pochmann à de Campinas são exemplos dessa tendência.

- Porque é evidente que, depois da catástrofe que foi a gestão de Duciomar Costa, necessita de um quadro técnico na prefeitura. 

6. As vantagens competitivas de Puty

As eleições deste ano serão polarizadas. Há muitos candidatos com grande apelo – ou poder de compra – de votos. O PT, apesar da derrota eleitoral de 2010, é um partido de primeira ordem, e deve reivindicar essa posição. 

Historicamente, o PT já parte de um patamar de 18% dos votos, em Belém, o que, consubstanciado por um posição firme, que realmente se afirme como esquerda, recuperando seus referenciais realmente históricos, consiste numa garantia real para ir ao 2o turno.

Nesse contexto, o PT precisa de um canditato que consiga se impor no debate político. E, nesse sentido, Cláudio Puty apresenta vantagens significativas em relação a Alfredo Costa.

Tome-se por exemplo sua trajetória na Câmara Federal. Em apenas um ano de mandato, Puty alcançou importante destaque em Brasília, ficando entre os deputados mais influentes na relação do DIAP, na categoria deputado em ascensão.

Puty assumiu a presidência da comissão de tributação e finanças da câmara - CFT, uma das mais importantes da casa e atuou em projetos e lutas importantes, como a denuncia da crise da ALEPA, criação do campus de Parauapebas e aprovação lei geral das micro e pequenas empresas, o Supersimples.

Essa atuação o tornou o parlamentar petista mais influente de toda a bancada amazônica. Puty mostrou ter formulação própria, capacidade para o debate e conseguiu se destacar e estabelecer uma relação objetiva com a presidenta Dilma e com as lideranças nacionais. Dessa maneira, Puty representa uma renovação qualitativa dos quadros do PT. Ele contribui diretamente para a formulação nacional do partido e para um novo posicionamento do Pará no contexto de uma transformação nacional iniciada por Lula.
(Hupomnemata- Prof. Fábio Castro)

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