Em debate na Folha, ao sugerir que poderá se candidatar a presidente da República pelo PSDB, o governador paulista Geraldo Alckmin expressava um sentimento que começa a tomar conta do partido: acabou a era José Serra, o pior período de um partido que, durante algum tempo, atraiu o pensamento renovador brasileiro.
A própria cobertura dos jornais paulistanos – em geral favoráveis a Serra – não mais esconde a personalidade e o estilo do candidato.
Na quinta, o Estadão mostrava Serra defendendo o trânsito em São Paulo (“poderia ser pior não fossem os investimentos”) e informava que ele era o único candidato a se locomover de helicóptero pela cidade, ao custo de R$ 3 mil a hora.
Na sexta, a Folha relatava a viagem de Serra no Metrô e seu curioso elogio da superlotação: é superlotado porque é bom e sai sempre no horário. Além das vaias recebidas e das sugestões para que viajasse em horário de pico.
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A falta de discernimento, de propostas, a imagem constantemente mal humorada, a falsa naturalidade com que se mistura ao povo, tudo isso contribuiu para o esfacelamento antecipado da campanha. A ponto da pesquisa Ibope-Globo apontar que, em um eventual segundo turno, Serra, o político duas vezes candidato à presidência da República, seria derrotado pelo inexpressivo Celso Russomano por acachapantes 45 a 33.
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Com Serra fora do caminho, o PSDB poderá tentar buscar alguma rota que lhe permita recuperar a dimensão nacional que um dia teve.
Não será fácil. Principalmente porque seu principal ideólogo, Fernando Henrique Cardoso, parece ter pendurado definitivamente as chuteiras.
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O problema central do PSDB foi ter aberto mão de todas suas ideias a partir da era Serra. Trocou propostas por ataques destrambelhados a adversários, exploração da intolerância e do preconceito, inaptidão para gestão e para todas as novas ideias que mudaram a forma de pensar do país nas últimas décadas, uso recorrente de dossiês e de ataques difamatórios.
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Hoje em dia, o país parece ter superado definitivamente as quizílias ideológicas entre privatistas x estatistas. Já entrou definitivamente no terreno do pragmatismo consistente.
Com seu pacote de concessões, anunciado na semana passada, a presidente Dilma Rousseff encampa um conjunto de princípios de uma certa ala desenvolvimentista do PSDB de meados dos anos 90, que acabou desprezada pelo próprio partido, engolfado que foi pelo liberalismo inconsequente dos anos seguintes.
Havia um pensamento de centro-esquerda com posições muito claras sobre o papel do Estado, do setor privado, de políticas industriais, da importância de políticas sociais inclusivas.
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Com tais ideias vitoriosas – e em mãos do PT -, a disputa se dará no campo da competência de gestão. No momento, destacam-se três gestores formidáveis, Eduardo Campos, governador de Pernambuco, Antônio Anastasia, de Minas Gerais, e Eduardo Paes, prefeito do Rio.
Alckmin terá que demonstrar uma criatividade e competência administrativa excepcional – que até agora não apareceu – se quiser se destacar e se tornar a esperança tucana em 2014.
(Carta Capital)
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