A assembleia dos movimentos sociais realizada na tarde deste sábado (1º), no salão de festas da reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), encerrou o Fórum Social Mundial Palestina Livre com a apresentação de um conjunto de propostas para fortalecer a mobilização da sociedade civil em nível mundial em defesa da luta do povo palestino.
Uma delas, apresentada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), é pressionar os governos dos países que compõem o Mercosul a rever a decisão de assinar um acordo de livre comércio entre o bloco sulamericano e Israel. A ampliação do boicote internacional a produtos e empresas de Israel é outra medida que pretende engrossar o caldo de medidas e iniciativas para rejeitar a atual política de ocupação e segregação praticada por Israel nos territórios palestinos. Também foi aprovada a ida de uma missão internacional de solidariedade à Palestina, em março ou abril de 2003, e a criação de um Comitê Internacional em Solidariedade à Palestina, reunindo as organizações que participaram do Fórum em Porto Alegre.
A avaliação geral sobre o evento em Porto Alegre, que reuniu 300 entidades de 36 países, foi positiva. Para a ativista italiana Maren Mantovani, coordenadora de Relações Internacionais do movimento Stop the Wall, o Fórum foi um momento único na história da solidariedade à causa palestina. “A marcha de abertura foi seguramente um dos momentos mais importantes, pois expressou algo fundamental, ou seja, que os povos apoiam a causa palestina. Do ponto de vista do conteúdo, os debates e as conferências tiveram um nível muito alto de discussão e também de trabalho acerca do que é preciso fazer. Não se discutiu apenas os problemas, mas também como eles podem ser solucionados”. Houve uma reunião de todas as delegações internacionais que discutiu um plano de ação muito concreto sobre os próximos passos da mobilização mundial em favor dos palestinos.
Ampliação dos boicotes e da solidariedade internacional
Mantovani destacou a proposta apresentada e aprovada na assembleia dos movimentos sociais para que, na semana que vem, uma delegação vá a Brasília propor aos chefes de Estado do Mercosul, que estarão reunidos em um encontro de cúpula, para que revejam o tratado de livre comércio assinado com Israel. “Neste momento, nos termos em que está colocado, esse tratado apresenta sérios problemas políticos e legais. Foi muito importante que a primeira fala na assembleia de hoje, de um representante da CUT, tenha levantado essa proposta”. Para a ativista, esse tipo de proposta é exemplo de um novo nível de solidariedade no movimento mundial de apoio à luta palestina. “Além disso, o evento aqui em Porto Alegre serviu para aumentar a coordenação em nível global e para chegar a um novo nível de solidariedade”.
As organizações que ajudaram a construir o Fórum concordaram, na declaração final do evento, em ampliar os laços de solidariedade e as formas de luta em defesa do povo palestino. “Cada delegação sairá agora de Porto Alegre e retornará à sua casa para continuar a trabalhar”, disse Maren Mantovani. “As campanhas que já existem saem daqui fortalecidas, e novas campanhas deverão ser criadas. Há sete anos se lançou a campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) em nível mundial. Aqui em Porto Alegre, vimos um consenso sobre a importância desse tipo de campanha. Com esse tipo de ações queremos criar a pressão internacional necessária para que se possa chegar a uma paz justa e duradoura no Oriente Médio”.
Os quatro dias de reuniões, manifestações e debates em Porto Alegre transcorreram num clima de absoluta tranquilidade, desmentindo a paranoia alarmista desencadeada por entidades da comunidade judaica do Estado que pressionaram autoridades dos governos municipal e estadual para não permitir a realização do evento pela suposta presença de “terroristas” em solo gaúcho. Durante os dias de realização do Fórum em Porto Alegre, podia se vir viaturas da polícia militar “guarnecendo” a entrada de sinagogas na cidade. A “proteção” acabou se revelando totalmente inútil. A preocupação dos participantes do evento não era praticar qualquer “ataque” em Porto Alegre, mas sim discutir os ataques que o povo palestino vem sofrendo há décadas por parte do governo israelense que não esconde mais o caráter expansionista e colonialista de sua política de ocupação e segregação nos territórios palestinos.
Luta anti-imperialista e anticolonialista
A realização do Fórum em Porto Alegre representou um novo passo no processo de ampliação da mobilização mundial em defesa do povo palestino. E essa ampliação não é apenas uma peça retórica. A escolha de fazer coincidir o início do evento na capital gaúcha com a aprovação na Organização das Nações Unidas (ONU) do status de Estado observador para a Palestina revela uma nova estratégia de aumentar a pressão internacional sobre Israel, incorporando à ação de governos a mobilização da sociedade civil. Vários participantes do Fórum destacaram que a questão palestina não é uma questão meramente nacional de um povo, condensando uma série de lutas contra formas de discriminação, opressão e racismo. O contexto maior dessa luta se dá num quadro de crítica ao atual modo de organização capitalista e duas velhas expressões políticas desse sistema: o imperialismo e o colonialismo. O documento que serviu de referência para as organizações participantes do Fórum deixa isso claro:
“A organização do Fórum Social Mundial Palestina Livre é a expressão da união dos movimentos sociais internacionais na luta contra o imperialismo, o neoliberalismo e a discriminação racial em todas as suas formas por considerar a justa luta pelos direitos dos palestinos uma parte integrante da luta internacional para desenvolver alternativas políticas, sociais e econômicas que aumentem a justiça, a igualdade e a soberania dos povos, baseando-se em justiça socioeconômica, dignidade e democracia”.
O clima do evento foi de solidariedade, troca de experiências e compartilhamento de informações sobre a dura realidade vivida pelo povo palestino na Cisjordânia cortada por muros e barreiras e em Gaza que vive sob um quase permanente estado de sítio. Um clima de esperança, de confiança, mas também de preocupação. Jamal Juma, coordenador do movimento Stop the Wall e um dos principais ativistas palestinos presentes ao Fórum em Porto Alegre, acredita que uma terceira intifada é praticamente inevitável, mantidas as atuais políticas do governo de Israel. E o governo israelense dá razão a Jamal. Na sexta-feira (30), em resposta à decisão da ONU de aceitar a Palestina como um estado observador, anunciou a construção de 3 mil casas em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia.
(RS Urgente)
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