O Brasil sempre foi um país de imigração. Agora, além dos estrangeiros que não param de chegar, o país recebe de volta brasileiros e brasileiras que trabalhavam na Europa
Os primeiros a chegarem como colonizadores foram os portugueses, depois os africanos que entraram como escravos. A partir de 1820 foi a vez dos espanhóis e alemães e em 1875 foram os italianos para trabalhar as terras do sul do Brasil. No início do século XX, os japoneses desembarcaram para trabalhar nas colônias rurais do estado de São Paulo e Pará. A partir da década de 70 o Brasil também passou a receber um grande número de sul-americanos e asiáticos - coreanos e chineses. A estabilidade econômica recente do Brasil com a moeda - o real forte tem contribuído para um processo de retorno de emigrados brasileiros e a redução do fluxo migratório observado até 2003.
Mas qual é hoje o impacto do continente americano sobre o resto do mundo? Desde 1492, na era dos descobrimentos, passando pela contribuição da América Latina a tantos países seja com metais preciosos, seja com alimentos e remédios, o Continente Americano volta a chamar a atenção do Velho Continente e dos migrantes no que se refere à percepção sobre o futuro.
A crise econômica mundial está fazendo com que a grande leva de latino-americanos, que deixou o continente na metade da década de 1990 rumo à Europa, tome o caminho de volta para casa. No Brasil, segundo dados do Ministério de Relações Exteriores, o fluxo migratório também se viu alterado no final da década de 90. De país que recebía a força de trabalho dos imigrantes, o Brasil passou a exportar mão-de-obra. Na década de 80, por causa da recessão econômica, o aumento da inflação e do desemprego e os baixos salários, cerca de 2,6 milhões de brasileiros emigraram do país entre os anos 80 e 90. Em anos recentes, porém, com o crescimento da economia brasileira, aliado às crises que afetam os pólos de desenvolvimento mundial, o número de emigrantes caiu significativamente.
Hoje assistimos a uma nova inversão dos fluxos migratórios, caracterizada não apenas pelo fluxo dos brasileiros, mas também pela entrada de novos imigrantes que estão desembarcando mais uma vez no Brasil. Segundo dados do Ministério da Justiça, o número de estrangeiros em situação regular no Brasil aumentou 52,4% no último semestre e continua crescendo.
Embora existam diferenças entre os países, e também entre as gerações, sobre a percepção do futuro - hoje há visões mais otimistas na China ou no Brasil do que em países da União Européia e nos Estados Unidos. Porque de fato atravessamos um tempo de rápidas transformações, mas isso não constitui um elemento novo em tempos críticos. Foi assim ao longo de todo o século XX com duas guerras mundiais que marcaram a primeira metade do século passado. Depois os anos da Guerra Fria com a ameaça de uma guerra nuclear. E, mais recentemente, notamos a mesma sensação de desorientação ao vermos como os Estados Unidos e agora alguns países da União Européia mergulharam numa crise econômica como se o capitalismo liberal tivesse chegado ao seu limite.
Até o início deste século XXI, os países poderiam encontrar modelos de desenvolvimento importados do Ocidente, do Leste e até mesmo resultante da combinação dos dois. Hoje esses marcos sinalizadores desapareceram e os "pilotos" que guiariam nossos destinos também. Mas o Brasil que enfrenta a crise com resistência começa a receber de volta brasileiros e brasileiras que há mais de vinte anos imigraram para a Itália.
Em Roma muitos brasileiros resolveram retornar ao Brasil este ano por causa do agravamento da crise econômica que afeta mais gravemente os países do Mediterrâneo. A história de três brasileiras que migraram para trabalhar na Itália e voltaram no mês passado para o Brasil mostra essa tendência. Marlete, Cacilda e Beatriz são três mulheres que chegaram a Roma para trabalhar e economizar em euros. Marlete tinha 28 anos quando veio trabalhar na capital italiana no final da década de 80, primeiro trabalhou em casa de famílias italianas, depois numa clínica para mulheres e nos últimos oito anos esteve como atendente numa das filiais de uma rede de padarias em Roma. Com cidadania ítalo-brasileira Marlete Campregher nunca se casou, não teve filhos e imigrou para a Itália com a vontade de um dia retornar ao Brasil onde era auxiliar de enfermagem. Há poucas semanas, depois de morar vinte e três anos na capital italiana voltou para Florianópolis onde deixou alguns parentes. Marlete pôde economizar dinheiro suficiente para conseguir comprar a casa própria em Blumenau, sua cidade natal.
“Em 1990 o Brasil não estava bem, não tinha a consideração que tem hoje e neste momento eu posso me permitir voltar para o meu país” diz Marlete, sempre agradecida por todas as oportunidades que teve aqui e pelos amigos que fez na Itália. Vamos embora da Itália com a cabeça erguida. Aqui vivi bem e agora como ainda estou jovem, tenho 49 anos, posso continuar a trabalhar no Brasil. Trabalhamos honestamente e com muita integridade, respeito por nós mesmas, conta Marlete ao lado da amiga brasileira Cacilda que também voltou no mesmo vôo para o Brasil.
A brasileira Cacilda Rodrigues que também morou mais de vinte anos em Roma foi para Goiânia onde moram seus filhos. Aqui ela trabalhou no consultório de uma médica italiana que se aposentou e fechou o consultório. Depois que seu marido faleceu, Cacilda disse que chegou a hora de voltar para estar mais perto da família que ficou em Goiás.
A manicure Beatriz dos Santos voltou com seu marido para o Paraná depois de morar onze anos em Roma. Trabalhava como manicure a domicílio. Ganhava bem, sempre foi reconhecida pelo trabalho e pontualidade por todas as suas clientes, mas decidiu acompanhar seu marido que sempre quis voltar ao Paraná. O marido de Beatriz trabalhava em Roma fazendo pequenos serviços como pintor, encanador, eletricista, mas não tinha a cidadania italiana como Beatriz e sempre pensou em retornar a Maringá. “Aqui eu felizmente trabalhei bem e foi uma facilidade porque tenho cidadania italiana pela minha descendência, mas meu marido não teve a mesma sorte e nos últimos tempos as oportunidades de trabalho começaram a diminuir. Por isso decidimos voltar“, conta Beatriz que volta animada com a possibilidade de engravidar e poder criar seu filho no Brasil.
A coragem e a determinação caracterizam a vida dessas três mulheres que migraram para trabalhar na Europa, economizaram em euros e agora regressam para o Brasil que pertence ao Novo Mundo e que volta a chamar a atenção mais uma vez do Velho Continente, mas agora como exemplo de um grupo de países latinoamericanos com modelos próprios e bem sucedidos.
De acordo com o último relatório sobre migração de 2012 na Itália, 93 mil italianos a mais deixaram a Itália rumo a outros países em relação ao ano passado. Apesar das estatísticas serem aproximadas uma vez que não é possível registrar todos aqueles que continuam a emigrar, a maioria trata-se de jovens desempregados além de profissionais recém formados em busca de uma oportunidade de trabalho fora da Itália onde a taxa de desemprego para os jovens até 25 anos já ultrapassa trinta e cinco por cento.
Enquanto a crise financeira que paralisa o mundo desde 2008 tornou-se também uma crise de consumo onde os países mais desenvolvidos passaram a cobrar da sua população o preço pago pelos desastres promovidos pela especulação financeira., no Brasil a opção por uma política de crescimento com inclusão social mostrou-se acertada. E isso chama de volta muitos brasileiros e acaba por atrair novos imigrantes.
Os primeiros a chegarem como colonizadores foram os portugueses, depois os africanos que entraram como escravos. A partir de 1820 foi a vez dos espanhóis e alemães e em 1875 foram os italianos para trabalhar as terras do sul do Brasil. No início do século XX, os japoneses desembarcaram para trabalhar nas colônias rurais do estado de São Paulo e Pará. A partir da década de 70 o Brasil também passou a receber um grande número de sul-americanos e asiáticos - coreanos e chineses. A estabilidade econômica recente do Brasil com a moeda - o real forte tem contribuído para um processo de retorno de emigrados brasileiros e a redução do fluxo migratório observado até 2003.
Mas qual é hoje o impacto do continente americano sobre o resto do mundo? Desde 1492, na era dos descobrimentos, passando pela contribuição da América Latina a tantos países seja com metais preciosos, seja com alimentos e remédios, o Continente Americano volta a chamar a atenção do Velho Continente e dos migrantes no que se refere à percepção sobre o futuro.
A crise econômica mundial está fazendo com que a grande leva de latino-americanos, que deixou o continente na metade da década de 1990 rumo à Europa, tome o caminho de volta para casa. No Brasil, segundo dados do Ministério de Relações Exteriores, o fluxo migratório também se viu alterado no final da década de 90. De país que recebía a força de trabalho dos imigrantes, o Brasil passou a exportar mão-de-obra. Na década de 80, por causa da recessão econômica, o aumento da inflação e do desemprego e os baixos salários, cerca de 2,6 milhões de brasileiros emigraram do país entre os anos 80 e 90. Em anos recentes, porém, com o crescimento da economia brasileira, aliado às crises que afetam os pólos de desenvolvimento mundial, o número de emigrantes caiu significativamente.
Hoje assistimos a uma nova inversão dos fluxos migratórios, caracterizada não apenas pelo fluxo dos brasileiros, mas também pela entrada de novos imigrantes que estão desembarcando mais uma vez no Brasil. Segundo dados do Ministério da Justiça, o número de estrangeiros em situação regular no Brasil aumentou 52,4% no último semestre e continua crescendo.
Embora existam diferenças entre os países, e também entre as gerações, sobre a percepção do futuro - hoje há visões mais otimistas na China ou no Brasil do que em países da União Européia e nos Estados Unidos. Porque de fato atravessamos um tempo de rápidas transformações, mas isso não constitui um elemento novo em tempos críticos. Foi assim ao longo de todo o século XX com duas guerras mundiais que marcaram a primeira metade do século passado. Depois os anos da Guerra Fria com a ameaça de uma guerra nuclear. E, mais recentemente, notamos a mesma sensação de desorientação ao vermos como os Estados Unidos e agora alguns países da União Européia mergulharam numa crise econômica como se o capitalismo liberal tivesse chegado ao seu limite.
Até o início deste século XXI, os países poderiam encontrar modelos de desenvolvimento importados do Ocidente, do Leste e até mesmo resultante da combinação dos dois. Hoje esses marcos sinalizadores desapareceram e os "pilotos" que guiariam nossos destinos também. Mas o Brasil que enfrenta a crise com resistência começa a receber de volta brasileiros e brasileiras que há mais de vinte anos imigraram para a Itália.
Em Roma muitos brasileiros resolveram retornar ao Brasil este ano por causa do agravamento da crise econômica que afeta mais gravemente os países do Mediterrâneo. A história de três brasileiras que migraram para trabalhar na Itália e voltaram no mês passado para o Brasil mostra essa tendência. Marlete, Cacilda e Beatriz são três mulheres que chegaram a Roma para trabalhar e economizar em euros. Marlete tinha 28 anos quando veio trabalhar na capital italiana no final da década de 80, primeiro trabalhou em casa de famílias italianas, depois numa clínica para mulheres e nos últimos oito anos esteve como atendente numa das filiais de uma rede de padarias em Roma. Com cidadania ítalo-brasileira Marlete Campregher nunca se casou, não teve filhos e imigrou para a Itália com a vontade de um dia retornar ao Brasil onde era auxiliar de enfermagem. Há poucas semanas, depois de morar vinte e três anos na capital italiana voltou para Florianópolis onde deixou alguns parentes. Marlete pôde economizar dinheiro suficiente para conseguir comprar a casa própria em Blumenau, sua cidade natal.
“Em 1990 o Brasil não estava bem, não tinha a consideração que tem hoje e neste momento eu posso me permitir voltar para o meu país” diz Marlete, sempre agradecida por todas as oportunidades que teve aqui e pelos amigos que fez na Itália. Vamos embora da Itália com a cabeça erguida. Aqui vivi bem e agora como ainda estou jovem, tenho 49 anos, posso continuar a trabalhar no Brasil. Trabalhamos honestamente e com muita integridade, respeito por nós mesmas, conta Marlete ao lado da amiga brasileira Cacilda que também voltou no mesmo vôo para o Brasil.
A brasileira Cacilda Rodrigues que também morou mais de vinte anos em Roma foi para Goiânia onde moram seus filhos. Aqui ela trabalhou no consultório de uma médica italiana que se aposentou e fechou o consultório. Depois que seu marido faleceu, Cacilda disse que chegou a hora de voltar para estar mais perto da família que ficou em Goiás.
A manicure Beatriz dos Santos voltou com seu marido para o Paraná depois de morar onze anos em Roma. Trabalhava como manicure a domicílio. Ganhava bem, sempre foi reconhecida pelo trabalho e pontualidade por todas as suas clientes, mas decidiu acompanhar seu marido que sempre quis voltar ao Paraná. O marido de Beatriz trabalhava em Roma fazendo pequenos serviços como pintor, encanador, eletricista, mas não tinha a cidadania italiana como Beatriz e sempre pensou em retornar a Maringá. “Aqui eu felizmente trabalhei bem e foi uma facilidade porque tenho cidadania italiana pela minha descendência, mas meu marido não teve a mesma sorte e nos últimos tempos as oportunidades de trabalho começaram a diminuir. Por isso decidimos voltar“, conta Beatriz que volta animada com a possibilidade de engravidar e poder criar seu filho no Brasil.
A coragem e a determinação caracterizam a vida dessas três mulheres que migraram para trabalhar na Europa, economizaram em euros e agora regressam para o Brasil que pertence ao Novo Mundo e que volta a chamar a atenção mais uma vez do Velho Continente, mas agora como exemplo de um grupo de países latinoamericanos com modelos próprios e bem sucedidos.
De acordo com o último relatório sobre migração de 2012 na Itália, 93 mil italianos a mais deixaram a Itália rumo a outros países em relação ao ano passado. Apesar das estatísticas serem aproximadas uma vez que não é possível registrar todos aqueles que continuam a emigrar, a maioria trata-se de jovens desempregados além de profissionais recém formados em busca de uma oportunidade de trabalho fora da Itália onde a taxa de desemprego para os jovens até 25 anos já ultrapassa trinta e cinco por cento.
Enquanto a crise financeira que paralisa o mundo desde 2008 tornou-se também uma crise de consumo onde os países mais desenvolvidos passaram a cobrar da sua população o preço pago pelos desastres promovidos pela especulação financeira., no Brasil a opção por uma política de crescimento com inclusão social mostrou-se acertada. E isso chama de volta muitos brasileiros e acaba por atrair novos imigrantes.
(Paola Ligasacchi- Carta Maior)
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