segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

E Lupi sai de fininho no dia do Corinthians


Espremido no noticiário de domingo entre a conquista do penta do Corinthians e a perda de Sócrates, Carlos Lupi escolheu um bom dia para pedir o boné e sair de fininho do Ministério do Trabalho, depois de um mês de desgaste para o governo da presidente Dilma Rousseff.
E não saiu abatido a bala, como ele pontificou no começo da crise, mas sufocado pela verdade dos fatos, isolado dentro do seu próprio partido, o PDT.
Lupi caiu de podre pelo conjunto da obra de malfeitos, que vão de irregularidades nos contratos com ONGs para cursos de capacitação a empregos públicos fantasmas e simultâneos, na Câmara Municipal, no Rio, e na Câmara dos Deputados em Brasília.
Sétimo ministro a ser defenestrado do governo de Dilma Rousseff em menos de um ano de governo, Lupi não foi nada original nem na sua carta de demissão, que já chegou tarde, no final do domingo em que os coritianos comemoravam a conquista de mais um título.
O ex-ministro do Trabalho disse-se "vítima de perseguição política e pessoal da mídia", como se todas as denúncias contra ele tivessem sido inventadas pela imprensa e não confirmadas pelo TCU e pela Comissão de Ética Pública da Presidência da República, que pediu seu afastamento na semana passada.
A demissão de Carlos Lupi, que agora pretende reassumir a presidência do PDT, revela um fio condutor na origem dos casos de corrupção que atingiram também outros ministros: a promiscuidade entre o público e o privado, com o uso de jatinhos de empresários com interesses nos ministérios, e os milhões de recursos do governo jogados fora em cursos de capacitação fajutos envolvendo ONGs fantasmas com agentes do aparelhamento partidário, fornecedores de fachada, etc.
Se todos as centenas de cursos de capacitação já promovidos nos últimos anos, em diferentes ministérios, tivessem de fato acontecido, o Brasil já deveria ser o país mais capacitado do mundo e não aquele com o maior número de ONGs sendo investigadas por desvios de recursos públicos.
Enquanto isso, falta mão-de-obra qualificada em vários setores, obrigando o país a importar trabalhadores. Este foi o grande legado negativo de Lupi nos seus cinco anos à frente do Ministério do Trabalho, em que o Brasil bateu recorde de criação de empregos formais, mas continua enfrentando sérios problemas para atender às novas exigências do mercado de trabalho.
Não se trata só de uma questão política ou ética: ao pensar no formato da reforma ministerial prevista para o começo do próximo ano, todos os problemas enfrentados pela presidente Dilma em 2011 indicam que ela precisa não só trocar nomes, mas os critérios, levando em conta a qualificação profissional dos indicados e não apenas a sua origem partidária ou geográfica.
Malfeitos à parte, o  Brasil está entrando num novo estágio de desenvolvimento e a impressão que se tem é que a máquina pública não está conseguindo acompanhar o ritmo do crescimento sustentável do país.
Carlos Lupi certamente não foi o último de uma safra de ministros despreparados para o cargo, mas espera-se que no novo ministério de Dilma não tenha mais espaço para pândegos como esse.
(Ricardo Kotscho)

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