De todos, o mais explícito Reinaldo
Azevedo, que fala em "populismo elétrico" e "campanha eleitoral na
tomada", mas o time inclui também o jornalista Carlos Alberto
Sardenberg, que reclama que as pessoas possam consumir mais, agora que
as tarifas vão cair, e a direção dos três principais jornais
brasileiros, que noticiaram com uma pitada de ironia e dor de cotovelo a
redução da conta de luz
Durante anos, décadas até, os
grandes jornais brasileiros vocalizaram uma das maiores demandas
empresariais no País: a redução do Custo Brasil. Nele, um dos principais
componentes de custo é a tarifa de energia, historicamente uma das mais
caras do mundo – especialmente após o processo de privatização. Dezenas
de eventos foram organizados em vários pontos do País e muito pouco, ou
quase nada, se fez.
Até que uma mulher, a presidente Dilma Rousseff, decidiu
enfrentar essa questão. E não de maneira intervencionista. Valendo-se de
uma oportunidade, que era a renovação das concessões de várias usinas
do setor elétrico, o governo obteve preços menores pela energia já
amortizada pelas concessionárias públicas ou privadas. Resultado: a
conta de luz cairá em 18% para as residências e até 32% no setor
industrial.
Uma notícia, certamente, de forte impacto popular, para um
governo que já desfruta de altos índices de popularidade. No seu
discurso de ontem, Dilma falou que a redução valerá até nos estados onde
os governantes se recusaram a renovar as concessões – ela mencionava
São Paulo, Minas e Paraná, governados pelo PSDB, mas não citou os nomes.
E disse que a turma "do contra" estaria ficando para trás.
Pois os corvos, na manhã desta quinta-feira, vestiram a
carapuça. Quem gralhou mais alto foi Reinaldo Azevedo, que falou em
"populismo elétrico" e "campanha eleitoral" na tomada. "Quem falava era a
candidata à reeleição em 2014. Até aí, vá lá. É a sina dos políticos
nas democracias; disputar eleições é parte do jogo. O que incomodou foi
outra coisa: por que o tom de desafio e, às vezes, de certo rancor?
Porque, no petismo — seja o lulista ou o dilmista —, mais importante do
que vencer, é a sensação de que o adversário perdeu", escreveu Reinaldo,
que – efetivamente – perdeu. Se dependesse da sua vontade, não haveria o
pacote para a redução das tarifas.
Outro corvo que se posicionou, em artigo no Globo, foi o
jornalista Carlos Alberto Sardenberg. "Pode ser que o governo não tenha
uma política, mas apenas alvos. E cada vez que atira em um, acerta no
que não devia. Um exemplo da hora: a redução das tarifas de energia vai
estimular famílias e empresas a consumir mais, lógico. Isso em um
momento em que os reservatórios das hidrelétricas, a energia mais
barata, estão em ponto crítico, exigindo o apoio das usinas
termoelétricas, mais caras. O processo ainda retira recursos das
companhias hidrelétricas, diminuindo sua capacidade de investimento em
novas fontes. O pior de tudo é que o Brasil já viu isso nos anos 70 e
80".
Não, na verdade o Brasil nunca viu esse filme: tarifas
públicas sendo reduzidas, nessa intensidade, numa negociação aberta, mas
liderada pelo governo. Talvez por isso mesmo, mas não sem uma ponta de
ironia, o Globo tenha noticiado o caso com um "nunca antes na história
deste País". E avisado, como bom corvo, que a queda de luz será
compensada pela alta, ainda não confirmada, da gasolina.
(Brasil 247)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário e assim que for possível, o publicarei no blog. Obrigado pela visita.