Enquanto a média
mundial de margem de lucro da indústria automotiva é de 5%, no
Brasil as montadoras lucram o dobro (10%) e apresentam índice de 58%
no custo de produção e distribuição, um dos mais baixos do setor
em todo o mundo.
As informações são
de um levantamento feito pelo Sindicato Nacional da Indústria de
Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças). Para o
presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT, Paulo
Cayres, a margem de lucro e os custos de produção apurados no
levantamen desmentem o discurso da indústria em relação, principalmente, à mão de obra.
“É uma falácia. Uma
grande mentira da indústria que tem enormes lucros e custos baixos,
mas, mesmo assim, quer pagar cada vez menos para seus trabalhadores e
vender seus produtos cada vez mais caros”, afirma.
Segundo Cayres, fora da
região do ABC, os salários pagos pelas montadoras são cada vez
mais baixos e chegam a representar um terço do piso em algumas
funções, principalmente nos novos polos automotivos do país, como
Camaçari (BA) e Recife (PE). “Nas fábricas do ABC, com forte
atuação sindical e histórico de conquistas trabalhistas
importantes, um trabalhador ganha R$ 4,8 mil de salário, enquanto na
Bahia o mesmo trabalhador ganharia R$ 1,5 mil e em Recife, R$ 1,2
mil”, afirma.
Para ele, as empresas
deveriam baixar a margem de lucro e diminuir o preço dos automóveis
brasileiros. “Os custos de produção são os menores do mundo, os
impostos, em um país com a desigualdade social como a brasileira,
são fundamentais para que o Estado garanta bem estar social às
pessoas. A única saída para que os carros brasileiros fiquem mais
acessíveis é diminuir a ganância dos empresários do setor”,
afirma Cayres.
De acordo com o
levantamento do Sindipeças, o preço dos carros brasileiros é
composto pelos 58% de gastos com produção e distribuição, que
incluem custos com matéria prima, mão de obra, logística,
publicidade e outros itens, e 32% de impostos. Os 10% restantes são
lucro.
No resto do mundo, o levantamento mostra que os preços dos carros é composto por
5% de margem de lucro, 79% de custos e 16% de impostos. Nos Estados
Unidos, berço da indústria automobilística, a margem de lucro é
ainda menor, de 3%, os custos variam de 88% a 91% e os impostos, de
6% a 9%.
O Sindipeças comparou
os preços de três modelos (Honda Fit, Nissan Frontier e Chevrolet
Cruise) no mercado brasileiro e em outros países e constatou
diferenças entre 13,46% e 106,03%. O mesmo Honda Fit básico, por
exemplo, que custa R$ 57,4 mil no Brasil, sai por R$ 27,9 mil para os
consumidores franceses, R$ 32,7 mil nos EUA, R$ 33,8 mil no
Japão e R$ 44,6 mil na Argentina.
Entre 2002 e 2011, além
dos lucros, os números do mercado brasileiro mostram que as
montadoras não têm do que reclamar. Segundo balanço da
Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores
(Anfavea), a produção de veículos cresceu 109% neste período, com
média anual de 8,6%, e as vendas no mercado nacional cresceram 145%,
com média anual superior a 10%. Entre janeiro e novembro de 2012,
foram produzidos 3,08 milhões de automóveis no Brasil (2,1% menos
que no mesmo período de 2011). A Anfavea não quis comentar as
informações sobre lucros e e custos de produção dos carros.
O levantamento do
Sindipeças foi apresentado em uma audiência pública realizada no
início do mês passado na Comissão de Assuntos Econômicos do
Senado a pedido da senadora Ana Amélia (PP), autora de um projeto
que tenta estimular a concorrência e a queda nos preços dos carros
brasileiros.
Por conta dos aumentos
nas vendas de carros nos últimos anos, e dos lucros, as montadoras
foram responsáveis por quase 20% de todas as remessas de lucro
feitas por empresas a partir do Brasil em 2011. No ano retrasado, elas enviaram aos seus países de origem U$ 5,58 bilhões.
(Rede Brasil Atual)
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