Responsável pelas obras da Copa em
Brasília, Claudio Monteiro reagiu com indignação às denúncias feitas
pelo araponga Dadá, que está condenado a 19 anos e seis meses de prisão,
mas foi reabilitado pela Folha nesta sexta-feira; Dadá acusa Monteiro
de ordenar um esquema de grampos contra adversários do governador Agnelo
Queiroz, quando a Operação Monte Carlo mostra exatamente o contrário –
as supostas vítimas é que grampeavam o governo para fazer com que a
Delta se infiltrasse no GDF
247 - Condenado a 19 anos e seis meses de
prisão, o araponga Idalberto Matias, o Dadá, um dos principais astros
do "jornalismo investigativo" de Brasília, foi reabilitado pela Folha de
S. Paulo, nesta sexta-feira. Em reportagem publicada pelo jornal, ele
acusa o executivo Claudio Monteiro, um dos braços direitos do governador
Agnelo Queiroz, de liderar um esquema de grampos clandestinos no
Distrito Federal, contra adversários do governo.
"Claudio contratou", disse Dadá, citando como alvos
jornalistas e políticos da oposição. A nova versão do araponga, no
entanto, não encontra respaldo em todo o material da Operação Monte
Carlo. Ali, o que se enxerga é justamente o contrário. A equipe do
bicheiro Carlos Cachoeira grampeava e seguia integrantes do primeiro
escalão do GDF, incluindo Claudio Monteiro, para tentar infiltrar
interesses da Delta no Distrito Federal.
Procurado por 247, Monteiro reagiu com indignação. "É
lamentável que os bandidos ainda não tenham sido presos", afirmou. "Como
pode uma pessoa condenada a 19 anos e seis meses de prisão ser tratada
com credibilidade e como um simples arrependido?"
Quando surgiram as primeiras denúncias da Operação Monte
Carlo, Claudio Monteiro deixou o cargo de chefe de gabinete de Agnelo
para se defender. As acusações partiam do esquema do bicheiro Carlos
Cachoeira, que tem Dadá como braço direito. Quando a íntegra dos grampos
demonstrou que a tríade Delta/Cachoeira/Demóstenes, com apoio da
revista Veja, tentava derrubar o governo Agnelo, Claudio Monteiro pôde
voltar e chegou a ser aplaudido na CPI. "Se eu era vítima dessa gente,
como poderia estar contratando os mesmos personagens?", indaga.
Abaixo, a reportagem da Folha desta sexta-feira sobre o caso:
Araponga afirma que ajudou assessor de Agnelo a espionar
Objetivo era interceptar e-mails de adversários do governador, diz operador
Após ter ficado em silêncio durante a CPI do Cachoeira, Dadá diz que governador tinha conhecimento do caso
RUBENS VALENTE
DE BRASÍLIA
O então chefe de gabinete de Agnelo Queiroz (PT-DF),
Cláudio Monteiro, ordenou a quebra de sigilo de contas de e-mail de
blogueiros críticos de Agnelo, um ex-deputado e um secretário do
governo, disse à Folha o sargento da reserva Idalberto Matias de Araújo, o Dadá.
Ex-agente secreto da Aeronáutica, Dadá, 51, quebrou o
silêncio quase um ano após a deflagração da Operação Monte Carlo, na
qual foi implicado como araponga a serviço do empresário Carlos Augusto
Ramos, o Cachoeira.
A encomenda, disse Dadá, foi cumprida entre dezembro de
2011 e fevereiro de 2012 por pessoas do Rio ao preço de R$ 40 mil. O
ex-agente diz que os pagamentos foram feitos pelo policial civil
Marcello de Oliveira Lopes, o Marcelão, 40, cuja família tem uma agência
de publicidade, a Plá Comunicação, que mantinha contrato de R$ 3,2
milhões com a central elétrica do DF.
"Quem na realidade quebrou e-mail foi Cláudio e Marcelão.
Primeiro, Cláudio contratou, e Marcelão pagou por esse serviço", disse
Dadá.
O ex-agente, que ficou em silêncio na CPI do Cachoeira,
disse agora que foi ao menos dez vezes ao gabinete de Monteiro no
Palácio do Buriti para entregar relatórios com informações interceptadas
e que o braço direito de Agnelo dizia que o "chefe" tinha conhecimento
do assunto.
Segundo Dadá, Monteiro fez uma lista de cinco alvos: os
blogueiros Edson Sombra e Donny Silva, o ex-deputado federal Alberto
Fraga (DEM), o site Quid Novi do jornalista Mino Pedrosa, e o então
secretário de Governo do DF, Paulo Tadeu, que teve desentendimento com
Monteiro sobre nomeações na Polícia Civil.
Com a lista em mãos, Dadá disse ter viajado ao Rio na
companhia de Marcelão para uma reunião com o policial federal aposentado
Joaquim Gomes Thomé, que conheceria alguém capaz de fazer a
interceptação. Dadá entregou registros de passagens aéreas que confirmam
uma viagem ao Rio com Marcelão.
Dadá afirmou que Thomé disse que um amigo faria a
interceptação das cinco caixas de e-mail por R$ 80 mil mensais. Monteiro
achou o preço salgado e aceitou pagar só por uma conta, a do blogueiro
Edson Sombra, que publica críticas ao governo do DF.
Dadá negou ter executado ou recebido dinheiro pela
interceptação. Disse que fez um favor a Monteiro e que nunca fez grampos
para Cachoeira.
Ele diz que a sua tarefa era receber os telefonemas de Thomé que narram o suposto conteúdo dos e-mails.
Dadá passava as anotações para Marcelão e a Monteiro.
Segundo Dadá, ele queria rastrear as fontes dos blogueiros para
neutralizá-las.
As declarações de Dadá corroboram um relatório da da
Polícia Federal que apontava Monteiro como responsável pelas quebras de
sigilo detectadas na Monte Carlo.
À época, Monteiro deixou o cargo. Meses depois, foi
inocentado em uma auditoria do governo e hoje cuida das obras relativas à
Copa-2014.